segunda-feira, 18 de maio de 2015

“A Carta”, um conto de Milena Oliveira sobre "Contos para uma Noite Fria"

           
 Antes de falar sobre “A Carta” propriamente, queria fazer uma breve contextualização. Certa vez, em um curso sobre Poesia e Pintura, a professora disse, citando não lembro quem (e por isso não dou nome aos bois), que a melhor crítica de qualquer obra de arte é sempre uma nova obra de arte. Segundo esse pensamento, melhor do que qualquer livro, artigo ou ensaio sobre determinada obra seria um novo quadro, conto ou poema nela inspirada, pois não haveria modo mais adequado de se expressar o sentimento suscitado do que transformá-lo em nova Arte.
            Longe de mim querer elevar meus Contos para uma Noite Fria a um estatuto de Arte; no entanto, foi impossível não lembrar dessa fala de minha professora quando, essa semana, a melhor e mais sensível “crítica” que já recebi, e que, imagino, virei a receber, chegou às minhas mãos...
Ilustração feita pela Dandi para o conto
"A Melancolia do Piano".
            Tudo começou com um bate-papo na Livraria Cultura do Shopping Villa-Lobos, onde conversei com toda a animadíssima equipe de vendedores sobre os meus Contos para uma Noite Fria. Depois do bate-papo, sorteei dois exemplares do meu livro. Duas moças supersimpáticas, a Simone e a Milena, o ganharam. Já no dia seguinte, a Milena entrou em contato comigo pelo Facebook, dizendo que já havia lido o livro, que gostara e que, em breve, eu receberia notícias dela pelo correio. Com um sorriso de orelha a orelha, li aquele feedback positivo e fiquei sem saber o que mais esperar, embora, curioso como sou, tenha ficado intrigado com aquele comentário enigmático. Qual não foi, pois, minha surpresa ao receber um lindo envelope verde. Logo o abri, tomando cuidado para não rasgar. Dentro havia três folhas de papel de carta, com texto na frente e no verso. Não sabia o que esperar e jamais teria imaginado que recebera “A Carta”, cuja transcrição – devidamente autorizada pela autora – segue abaixo.
            Não é preciso dizer que me emocionei com a trajetória de Sophia, cujo percurso tanto me evocou a lembrança do pianista de meu conto “A Melancolia do Piano”. Nem posso deixar de mencionar que “O Germe da Imaginação” também é o conto de que mais gosto. Em suma, ouso dizer que o espírito de meu livro transcende em “A Carta” e me alegra saber que minha escrita suscitou tudo isso. Sem mais spoilers, vamos a “A Carta”, estou certo de que quem gostou de meu livro, vai gostar tanto dela quando eu.


A Carta
Por Milena C. Oliveira


Ilustração de Dandi para o conto
"O Germe da Imaginação".
         Escreva-me, era o que repetidamente soava em sua mente, enquanto Sophia lia seu novo livro Contos para uma Noite Fria.
         Tivera o prazer de conhecer o autor e ganhar o livro de suas mãos.
         Enquanto aguardava a dedicatória, um convite inusitado, tornar-se escritora, não de um livro que seria o próximo best-seller do New York Times, mas de suas impressões e sentimentos despertos pelo livro, agora autografado. Escreva-me, disse o autor.
         Ao concluir a leitura, Sophia trancou-se em seu quarto, que era na verdade, o antigo porão da casa de sua tia, com quem viera morar alguns anos após ficar órfã.
         Com caderno e caneta em mãos, deitou-se e deixou “O Germe da Imaginação” – seu conto favorito – criar força dentro de si e externar-se em palavras.
         Quanto mais escrevia, percebera crescente sensação de completude preenchendo todo seu ser. Concomitante, sentia esvair-se a consciência a cada palavra acrescentada ao papel.
         O pânico tomou conta de sua mente. O coração pulsava forte, uníssono em todo seu corpo.
         O que está acontecendo? pensou.
         Interrompeu bruscamente a escrita. Respirou fundo. Após acalmar-se retornou à carta.
         Expressando suas impressões, submergia-se em um leitoso oceano. Dessa vez, não teve medo, pois quanto mais distanciava-se da luz e do ar da superfície, melhor e mais radiante sentia-se.
         Notou Sophia, que por onde nadava, um rastro azul marcava o branco impecável do oceano. Lembrou então, que estava escrevendo uma carta para o autor que recentemente conhecera e viu-se deitada em sua cama, encarando o branco papel e a caneta azul que tinha em mãos.
         Não estava mais a nadar. Não sentia-se mais completa e feliz.
         O que está acontecendo? verbalizou, consigo.
         Retomou a escrita e aquela maravilhosa sensação retornou. Só então percebeu que enquanto escrevia sentia a magia envolver todo seu ser, transformando sua realidade em algo fantástico, impossível às leis da física.
         Sentia sua realidade desintegrando-se e sem medo entregou-se, tendo, contudo, o cuidado de destrancar a porta e escrever um pequeno bilhete Enviar para o autor, que deixou entre a carta e o envelope.
         Sabia agora Sophia, que o oceano era o papel e a tinta era a essência de seu próprio ser, que se desfazia a cada palavra escrita.
         Nadar era escrever, escrever era descobrir-se, mas descobrir-se era morrer.
         Cogitou por um momento.
         Estava pronta para deixar a existência?
         Deixaria mesmo de existir se se transformasse em tinta sobre o papel?
         Uma poesia ou um conto talvez lhe preservasse melhor em memória, mas uma carta?
         Valeria a pena deixar de ser menina e transformar-se em carta?
         Sentia-se tão feliz, completa e harmoniosamente alinhada que não teve dúvida, não nascera menina, nascera carta e só agora se descobrira.
         Valeria a pena ser uma carta endereçada a quem mal se conhece?
         Seria mais útil uma carta ao governo? À igreja? Aos parentes e amigos?
         Mas utilidade nada tem a ver com magia.
         Toda magia tem um preço. Talvez esse preço seja a loucura deste mundo para seres fantásticos que jamais foram, de fato, desta terra.
         Sim, vale a pena ser carta.
         Sim, vale a pena ser uma carta para este autor, que com uma frase tão singela – Escreva-me – libertou da escuridão e do assombro a menina que nunca fora menina, sempre fora carta. Sempre fora tinta fresca em um oceano leitoso de papel.
         A menina está melhor agora, liberta pelo germe da imaginação e a carta está enfim nas mãos do autor que a libertou.
         Se haverá uma resposta, só o autor poderá dizer.


O texto fala por si e só tenho a agradecer a Milena Oliveira pelo carinho e por ter autorizado a reprodução de seu texto aqui no Cérebro-Casa. “A Carta” original, cuja fotografia reproduzo ao lado, vai sempre me lembrar de que devo dizer mais vezes Escreva-me...

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Fernando Pessoa e a Defesa da Literatura Policial


         Pouca gente sabe, mas Fernando Pessoa foi autor de várias histórias policiais, que, infelizmente, encontram-se todas fragmentárias e, em alguma medida, incompletas. Suas histórias, porém, são bastante interessantes por apresentarem, aos moldes de Sherlock Holmes e Auguste Dupin, dois detetives geniais: o ex-sargento inglês William Byng e o médico português Dr. Abílio Quaresma.
         Para além de suas narrativas policias (ou policiárias, como preferia dizer), Pessoa escreveu também um ensaio (também incompleto) chamado “História Policial” no qual analisa diversas obras, defendendo o gênero e expondo o que, para ele, seria a história policial ideal.

Sem querer me alongar muito, gostaria apenas de citar o trecho deste ensaio em que Pessoa defende com mais fervor o gênero policial, que desde a sua época, e ainda hoje em dia, é muito desprezado pela crítica. Nunca tive dúvidas quanto à qualidade e importância do gênero, mas, depois destas palavras de Pessoa, espero que mais gente reveja seus conceitos. A quem tem ainda o preconceito, fica aqui essa defesa legítima de um gênero desprezado por muitos. Eis o que fala Pessoa:
   
         “Uma ideia muito errada tem tido grande aceitação – nomeadamente que uma história policial não passa de uma obra de tipo inferior. Os críticos, em especial aqueles que se ocupam de obras poéticas e filosóficas, são unânimes na sua depreciação deste tipo de história. Olham-na como algo que não necessita de imaginação e de pouca ou nenhuma lógica. Mas estão enganados num ponto – nunca tentaram analisar as histórias de que falo, nunca mediram acerca daquilo que uma história policial realmente é e nas faculdades necessárias à sua escrita. Alguns desses críticos podem ser desculpados, pois, como estão muito habituados ao trabalho, nesta área, de alguns senhores, que não irei mencionar, e de muitos outros de valor literário semelhante, inferiram correctamente, a partir do que conheciam, que a história policial não precisa de imaginação, que não precisa de lógica – que, na realidade, qualquer pessoa a pode escrever, desde que não tenha respeito pelo intelecto que possui.
         “Por outro lado, a ideia popular é a oposta. A multidão faz o seu julgamento a partir das mesmas premissas e retira a conclusão oposta. Como a imaginação dos autores de que falei não é superior à imaginação popular; como a sua lógica não é mais perspicaz do que a lógica de um carpinteiro ou de um padeiro (supondo que o intelecto do carpinteiro e do padeiro não é superior ao que se pensa), o homem comum considera que estes autores atingiram o limite da esperteza humana.
         “A multidão, no entanto, erra devido à simples estupidez; os críticos erram porque não analisaram devidamente.”


(Fernando Pessoa, “História Policial” in Histórias de um Raciocinador. Edição e Tradução de Ana Maria Freitas. Lisboa: Assírio & Alvim, 2012, pp. 228-9).

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Sobre "Contos para uma Noite Fria"


Contos para uma Noite Fria

Comecei a escrever ficção aos treze anos. Primeiro insisti em patinar no gênero romance e até cheguei a terminar um, mas que está longe de ser publicável. Gênero difícil, com o qual ainda me digladio, um dia hei de terminar algo decente. Em 2003, descobri o conto como possibilidade de escrita e desde então soube que, mesmo que venha a escrever textos de outras categorias, o conto seria a minha casa. Gosto do gênero por sua concisão, potência e capacidade de surpreender. Descobri contistas excelentes como Guy de Maupassant, Sir Arthur Conan Doyle, Machado de Assis, Edgar Allan Poe, Murilo Rubião, Clarice Lispector dentre muitos outros que muito me ajudaram a entender o poder sugestivo dessa forma breve. Desde então publiquei contos em algumas coletâneas e organizei algumas outras. Outros guardei, e fui burilando com carinho. 

Ilustração do conto "Estátuas"
Por isso, é com muita alegria que convido a todos para o lançamento de Contos para uma Noite Fria, meu primeiro livro, que traz 12 contos, escritos e reescritos muitas vezes entre 2003 e 2013. Os contos giram em torno de temas da Literatura Fantástica, flertando com o sobrenatural e com mundos distópicos, e com toques de terror psicológico. Tentei brincar com os limites entre a ficção e a realidade, entre o real e o onírico, entre o sobrenatural e a loucura.

O livro sairá pela Llyr Editorial, o selo de literatura insólita da editora Vermelho MarinhoO prefácio é assinado pelo meu grande amigo Rogério Caetano de Almeida, professor de Literatura Brasileira da UTFPR, que conheci pouco depois de ter começado a escrever. Rogério foi meu professor de Literatura no colegial e sem dúvida o maior responsável por eu ter continuado a escrever, por eu ter feito Letras, por ter seguido a carreira acadêmica, por ter escolhido dedicar minhas pesquisas ao Simbolismo. Mais que um amigo, Rogério é um verdadeiro mestre e, por isso, a pessoa perfeita para prefaciar o livro. Não bastassem todos esses motivos, Rogério é ainda um grande estudioso da literatura fantástica e coordena o grupo de pesquisa O Estranho, o Fantástico e o Grotesco: Estudos sobre os Gêneros, na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, onde trabalha.

Ilustração do conto "A Melancolia do Piano"
Cada um dos 12 contos é acompanhado por uma ilustração da minha grande amiga Dandi, a mesma que fez as capas da coleção O Melhor de Cada Tempo, dentre as quais a de Futilidade ou O Naufrágio do Titan, e também as capas e ilustrações internas da série Mundo de Oz. Dandi tem o poder sobrenatural de conseguir captar exatamente o que eu gostaria que o leitor sentisse ao ler cada conto. Cada desenho, portanto, traz a essência das histórias, embora seja, talvez, pretensão de minha parte querer que meus contos estejam à altura de seus desenhos. Dandi assina também a capa  (que pode ser vista aberta aqui), baseada no conto “Gravidade às Avessas”, um dos menores textos do livro, mas, sem dúvida, meu favorito. “Gravidade” é um conto diferente dos demais, por diversos motivos, mas achei que a ideia de isolamento existencialista e, ao mesmo tempo, de loucura e de fantástico presentes nesse conto captavam a ideia do conjunto e dariam o ar ideal para a capa. Espero que tenha dado certo. Não vou falar dos demais contos para não quebrar a aura de mistério, mas deixo para vocês dois desenhos de Dandi: a ilustração que acompanha o conto “Estátuas” (que a editora já divulgou no Facebook) e a que ilustra o conto “A Melancolia do Piano”, inédita até agora, e, uma de minhas favoritas. Espero que gostem. A diagramação foi feita por outro amigo incrível, o Marcelo Amado, da Página 42, a quem devo metade a outra metade da beleza do livro.

O lançamento será no dia 13 de dezembro, das 15h às 17h30, no Espaço Café da Livraria Cultura do Shopping Market Place, localizado na Av. Dr. Chucri Zaidan, 902, ao lado da Estação Morumbi da CPTM. Há mais informações sobre o lançamento na página do Evento no Facebook. Nem preciso dizer que são todos mais que bem-vindos! Quem não puder ir ao lançamento ou já quiser encomendar o livro, ele já está à venda nos sites da Livraria Cultura e da Livraria Martins Fontes Paulista. Quem quiser pode também adicioná-lo à sua estante no SkoobPor fim, deixo a sinopse do livro para atiçar a curiosidade de vocês: Ao abrir Contos para uma Noite Fria, prepare-se para entrar em um universo de histórias fantásticas, de sobrenatural, absurdo e distopia, onde sonhos se tornam pesadelos e cenários misteriosos viram delírios apocalípticos. A inquietação e o medo (do estranho ou de nós mesmos), então, ganham vida, com vários estilos e temáticas. E, apesar da diversidade – que vai da melancolia do artista a possíveis futuros e devaneios em torno de si –, um tipo específico de linha costura todas as narrativas: uma grande perturbação. E, em vez de querer escapar, você se verá envolvido por este universo tão louco quanto um mundo de cabeça para baixo.

Uma Espiada na Diagramação




domingo, 12 de outubro de 2014

Teaser do lançamento de "Futilidade ou O Naufrágio do Titan"


Para quem não pôde ir ao lançamento de Futilidade ou O Naufrágio do Titan, de Morgan Robertson, mas está curioso para saber como foi, deixo aqui o teaser do evento, que aconteceu no dia 26/09/2014, na Livraria Cultura do Shopping Market Place!



Aproveito também para agradecer à FERIMAGE, que gravou e produziu o vídeo, ficou demais, pessoal! E também à Livraria Cultura do Shopping Market Place, onde o lançamento foi realizado.

Se alguém quiser saber mais sobre o livro, leia a postagem que fiz sobre o livro no dia 15 de setembro de 2014, onde comento sobre o livro, sobre o autor, sobre o tradutor, etc. etc. etc.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

"Futilidade ou O Naufrágio do Titan", de Morgan Robertson

Fotos de Lucas Anselmi Matangrano

Quando a vida imita a Arte:
O livro que antecipou a tragédia do Titanic

Ficha Técnica

Título: Futilidade ou O Naufrágio do Titan

Páginas: 112          Preço: R$ 20,00

Autor: Morgan Robertson (1861-1915)

Tradução, notas e posfácio: Carlos Daniel S. Vieira

Sinopse: Futilidade ou O Naufrágio do Titan conta como o maior navio do mundo naufragou, em sua primeira viagem, após bater em um iceberg, exatamente, como viria a acontecer com o malfadado Titanic, catorze anos depois. Quem poderia imaginar que uma novela do final do século XIX se tornaria célebre por ter praticamente previsto o maior acidente náutico de todos os tempos?  

Mais do que o livro que profeticamente previu o naufrágio do Titanic, Futilidade é a história de John Rowland, um ateu convicto que embarca como marinheiro no navio, e Myra Selfridge, uma jovem cristã que foi o grande amor de sua vida. Os problemas só aumentam quando um capitão trapaceiro tenta colocar tudo a perder.      

Myra e Rowland refletem, assim, os conflitos científicos e religiosos da virada do século, quando a ciência se sobrepôs à religião. Ao leitor, resta a dúvida: teria sido coincidência ou providência?


Adicione o livro no SkoobDisponível na Livraria Cultura.



Um pouco mais sobre o livro


     Publicado originalmente em 1898, Futilidade ou O Naufrágio do Titan, de Morgan Robertson (1861-1915), é a história do maior navio então já construído, o indestrutível Titan. Curiosamente, essa tragédia evoca outra. Mais de uma década depois, outro navio, também considerado inatingível, naufragou do mesmo modo ao bater em um iceberg, em sua primeira viagem da Inglaterra para os Estados Unidos, em 1912. As coincidências são tantas que até o nome de um remete ao do outro: Titan e Titanic, o que valeu ao escritor grande fama e até suposta mediunidade.      

Para além das coincidências, Futilidade traz ao leitor a história de um antigo amor entre Myra e John Rowland que se reencontram, depois de muitos anos, por acaso, ou providência, no malfadado Titan. O tempo passou para ambos, Myra casou-se e teve uma linda menininha, enquanto o ex-tenente John Rowland, após uma vida de excessos, se tornou um marinheiro alcoólatra, que agora vai tentar se redimir junto a Deus e aos homens para provar a Myra e a si mesmo que é um bom homem.      

Em meio a isso tudo, o acidente que leva um ateu a rezar no momento mais extremo de sua vida e a pensar: será que Deus existe?





Futilidade e a coleção O Melhor de Cada Tempo da Editora Vermelho Marinho


Futilidade ou O Naufrágio do Titan inaugura a coleção O Melhor de Cada Tempo, dirigida por Annie Gisele Fernandes (professora da USP) e por mim, e publicada pela Editora Vermelho Marinho. A coleção tem por objetivo trazer para o público brasileiro grandes clássicos da literatura mundial, sejam livros que há muito não são editados, que nunca foram traduzidos, ou ainda aqueles completa e injustamente esquecidos.     

Entendemos o termo clássico em seu sentido mais amplo, isto é, obra de especial importância estética, formal ou temática, reconhecida pela crítica ou pelo público da época, mas que, por algum motivo, caiu no esquecimento ou sequer chegou a ser publicada no Brasil. Esse é o caso desta pequena novela de Morgan Robertson, escolhida para dar início a esse projeto.     

Com uma narrativa fluida e sensível, Futilidade ou O Naufrágio do Titan é uma história de um amor impossível, mas também é um debate filosófico sobre a existência de Deus. Uma história clássica, que vem à luz pela primeira vez em português, nesta bela tradução de Carlos Daniel S. Vieira, acompanhada de notas histórias, de tradução e de vocabulário, além de um interessante posfácio.


Um pouco sobre o Autor


Morgan Robertson nasceu em 30 de setembro de 1861, em Oswego, pequena cidade do Estado de Nova York, EUA. Filho de capitão, muito jovem iniciou carreira na marinha mercante, demonstrando o amor pelo Oceano. Amor que, anos depois, se traduziu em uma série de contos e novelas marítimas dentre as quais a mais célebre foi Futilidade ou O Naufrágio do Titan. Morgan ainda é conhecido por ser o suposto inventor do periscópio e por sua novela Para além do Espectro, publicada em 1914, na qual contou, novamente de maneira profética, a história de uma grande guerra náutica entre os EUA e o Japão. Robertson foi encontrado morto, em 14 de março de 1915, em um hotel de Atlantic City, no estado de Nova Jersey.


Um pouco sobre o Tradutor e Posfaciador


Carlos Daniel S. Vieira é professor e tradutor formado em Letras (português e inglês) pela Universidade de São Paulo – USP. Aficionado por literatura desde sempre, ama ler e escrever, e busca passar esse gosto para seus alunos. Dentre seus trabalhos mais importantes, está a tradução de Tigana – vol. 1 – A Lâmina na Alma, de Guy Gavriel Kay, publicado pela Editora Saída de Emergência, no Brasil e em Portugal.


Lançamento e bate-papo na Livraria Cultura do Shopping Market Place


O livro será lançado oficialmente no próximo dia 26/09/2014, na Livraria Cultura do Shopping Market Place. O lançamento será precedido por um debate comigo e com o Carlos, no qual comentaremos algumas curiosidades sobre esse livro tão intrigante. Mais informações: aqui e aqui.


segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Comentário sobre a HQ “Imagine Zumbis na Copa”


IMAGINE ZUMBIS NA COPA

Roteiro: Felipe Castilho
Arte: Tainan Rocha
Editora: GIBIZ 


SINOPSE: A copa do mundo chega à sua grande final. E é justamente durante este jogo decisivo que o fim da humanidade pode ter se iniciado. Por trás das câmeras e sobre o gramado, três pessoas enfrentam suas próprias batalhas, antes de perceberem que o maior pesadelo de uma nação pode não ser uma derrota em casa... e que nenhuma tragédia esportiva na história chegou ao nível do que está para acontecer dentro dos portões do Maracanã.


Quem me conhece sabe: não há nada que eu deteste mais no mundo do que futebol... Por motivos vários, mas para não me alongar aqui, afinal, essa não é a questão, digo apenas que nada tenho contra o esporte em si, mas não gosto do jogo, da competição, da torcida, do chororô, dos fogos, do pão e circo semanal. Jamais vou entender como alguém pode chorar pelo fim de um jogo, sendo o resultado positivo ou negativo. Vai entender... Talvez minha incompreensão se deva ao fato de eu mesmo não ser competitivo e não ter paciência com esse tipo de coisa; talvez ela se deva ao fato de eu me revoltar com a facilidade de as pessoas se deixarem distrair com um jogo... Mas enfim, como eu disse essa não é a questão.

O fato é que apesar de detestar futebol, algum tempo antes da fatídica Copa do Mundo, meu grande amigo Felipe Castilho me convidou para o lançamento de seu trabalho mais recente... Uma HQ, em parceria com Tainan Rocha que saiu pelo selo GIBIZ da Editora GIZ, e cujo tema era, nada mais, nada menos do que futebol. E zumbis, é claro.

Se fosse de outro autor, é claro que sequer cogitaria comprar (e quem dirá ler) a HQ, mas era do Felipe... Para ajudar, a HQ tem o sugestivo nome: Imagine Zumbis na Copa. Logo vi que iria rir muito (e estava certo), então deixei o preconceito de lado e li... Li de uma tacada só, pois o trabalho ficou bom demais e não foi possível parar! E ao terminar a leitura, fiquei feliz de não ter deixado minha birra com futebol me impedir de lê-la, pois, afinal, tudo o que li fez o maior sentido do mundo! Pois, na verdade, acho impossível alguém que não goste de futebol deixar de gostar de sua HQ! (espero que essa frase faça sentido). Mas falo sério! Eu ri muito lendo e me senti vingado também... Mas acho que quem gosta de futebol também vai gostar, é claro. E quem gosta de zumbis, é óbvio. Sobretudo, quem tem bom humor, quem gosta de uma ironiazinha ácida e bem feita, e, é claro, de quem gosta de desenhos estilosos e bem coloridos.

Brincadeiras à parte, a verdade é que adorei as críticas que o Felipe fez em seu roteiro, tanto as mais veladas, quanto as mais escrachadas. Achei genial o conflito de interesses que permeiam o texto, sobretudo, na personagem René (um menino haitiano pobre que cresce e se torna juiz – e acaba sendo contratado para apitar a final da Copa, no Brasil). Diga-se de passagem, René é a melhor personagem. Aliás, gostei muito da ponte que ele fez com o Haiti, mostrando a pobreza do país e como o futebol pode parecer para uma realidade assim (tal qual a de nossas favelas) um sonho e até um modo de vencer na vida, como acontece com René (e isso não é spoiler, pois fica claro logo no começo). Mas de volta à partida final, Felipe introduz o tema da corrupção, e com ele alguns questionamentos existenciais e muitas alfinetadas engraçadas que mesclam o humor com o tema sério. E esse conflito entre o que é certo e o que é errado quando tem gente passando fome e quando o aparentemente errado pode ser uma saída para se fazer o bem, deu um toque existencialista pra coisa que contrasta de modo bastante interessante com o humor geral que permeia o texto, mostrando que as coisas são bem mais do que parecem, e dando um chute na cara de todo mundo (inclusive na minha) que critica, muitas vezes, sem refletir as infinitas possibilidades (mas continuo sem gostar de futebol, que fique claro).

No pano de fundo há zumbis. E (um pequeno spoiler) o Felipe ainda banca o médium, prevendo a mordida entre jogadores que deu tanto o que falar na Copa da vida real. Se foi previsão, providência ou marketing, não sei dizer. Mas a vida imita a arte, não é mesmo? Futilidade está aí para provar.

Para além disso, achei bem legal como o Felipe conseguiu amarrar, em tão poucas páginas, vários núcleos (pois a história nem de longe se resume ao René)... Um dos núcleos mais legais é de um jogador veterano, ex-viciado, depressivo e esquecido, com conflitos existenciais. Novamente, os limites entre o certo e o errado, o bem e o mal se tornam muito tênues.

O final me pegou de surpresa, sobretudo, pelo epílogo estar meio escondido... Gostei das entrelinhas, e fiquei chocado quando pensei, no final, que uma certa personagem tinha morrido.

E em meio a tudo isso, há zumbis. Os zumbis estão lá, mas no fim, há muito além deles, não?

Porém, nem tudo são elogios, né? E quem me conhece sabe que se elogiei até aqui foi por ter gostado mesmo e ter lido com muito prazer... (não sou de criticar, prefiro comentar apenas quando gosto, se não tivesse gostado, simplesmente não comentava... fica a dica). Mas feito esse preâmbulo para introduzir minha única crítica, tenho de confessar, que achei o fim muito abrupto, e o epílogo um pouco confuso (ficou muita coisa subentendida). Mas talvez seja apenas porque não queria que a história acabasse... No final, eu me senti órfão, por acabar tão de repente. E no epílogo, pensei: “acho que deixei escapar algo”. Mas entendi depois, eu acho... Por outro lado, há algo de que gostei muito no epílogo, e não posso falar, pois é spoiler...

Quanto aos desenhos do Tainan, só digo que espero ver mais do trabalho dele. Os traços, as cores, tudo coube perfeitamente. O cara tem muito talento.

Por fim, não posso deixar de dizer que toda a referência ao Haiti me fez lembrar de imediato de um de meus livros preferidos: País sem Chapéu, de um haitiano radicado no Canadá chamado Danny Laferière (acho que já o mencionei em algum lugar aqui no blog, ou não. De toda forma, preciso escrever sobre ele um dia). É uma história semiautobiográfica (mas com direito a zumbis também, uma descida aos infernos dantesca e deuses da mitologia vudu) em que um jornalista, também radicado no Canadá e exilado do Haiti volta para a casa da mãe, vinte anos depois, e entra em conflitos existenciais ante a miséria do país, pós-ditadura e conflitos. É um livro muito bonito. No Brasil, saiu pela Editora 34 e ouvi dizer que a tradução está ótima. Foi inevitável fazer a ponte, diante de tantas coincidências entre o livro e a HQ, guardadas, é claro, as gritantes divergências.


Que venham mais trabalhos do Felipe e do Tainan.


domingo, 5 de janeiro de 2014

Repostagem: Cérebro-Casa (Ou A Teoria de Sherlock Holmes)



Para quem procura entender como funciona a mente do genial detetive, aqui está sua mais importante teoria:

“- Veja – explicou [Holmes] -, em minha opinião o cérebro humano originalmente é como uma casa vazia que vai sendo equipada com os móveis que a pessoa escolhe. Os tolos levam para dentro todos os trastes que encontram, de modo que os conhecimentos que poderiam ser-lhes úteis ficam completamente atravancados, ou, na melhor das hipóteses, misturados com um monte de outras coisas, de modo que essas pessoas têm dificuldade para atingir o que desejam. Já o trabalhador eficiente tem o maior cuidado quanto ao que leva para dentro de seu cérebro-casa. Ele só se interessa pelas ferramentas capazes de ajudá-lo a fazer seu trabalho, mas dessas tem em enorme sortimento, tudo na mais perfeita ordem. É um engano imaginar que aquela salinha tem paredes elásticas, capazes de se distenderem o quanto se queira. Pode acreditar: chega um momento em que todo acréscimo de conhecimento significa esquecer alguma coisa que antes sabia. É da maior importância, portanto, não ter fatos inúteis tirando o lugar dos úteis."

(Trecho extraído de O Estudo em Vermelho, de Sir Arthur Conan Doyle, tradução de Heloisa Jahn, 7ª ed., São Paulo, Ed. Ática, 2003, p. 30).


quinta-feira, 15 de julho de 2010

A Teoria de Sherlock Holmes...



Creio que nada mais justo do que abrir esse Blog com a Teoria que lhe deu origem... Por isso, sem delongas, passo a palavra a Sherlock Holmes:


“- Veja – explicou -, em minha opinião o cérebro humano originalmente é como uma casa vazia que vai sendo equipada com os móveis que a pessoa escolhe. Os tolos levam para dentro todos os trastes que encontram, de modo que os conhecimentos que poderiam ser-lhes úteis ficam completamente atravancados, ou, na melhor das hipóteses, misturados com um monte de outras coisas, de modo que essas pessoas têm dificuldade para atingir o que desejam. Já o trabalhador eficiente tem o maior cuidado quanto ao que leva para dentro de seu cérebro-casa. Ele só se interessa pelas ferramentas capazes de ajudá-lo a fazer seu trabalho, mas dessas tem em enorme sortimento, tudo na mais perfeita ordem. É um engano imaginar que aquela salinha tem paredes elásticas, capazes de se distenderem o quanto se queira. Pode acreditar: chega um momento em que todo acréscimo de conhecimento significa esquecer alguma coisa que antes sabia. É da maior importância, portanto, não ter fatos inúteis tirando o lugar dos úteis."

(Trecho extraído de O Estudo em Vermelho, de Sir Arthur Conan Doyle, trad. de Heloisa Jahn, 7ª ed., São Paulo, Ed. Ática, 2003, p. 30).

Um Blog, porém, pode resolver esse problema de falta de espaço...
Seja Bem-vindo!